2010-05-30

Carros Usados, Vendedores Pirados

carros usados vendedores pirados
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Don Draper, Gordon Gekko, Dirk Diggler... Existe toda uma linhagem de anti-heróis que reinterpreta e personifica o que há de mais cru no american way, e Don Ready concorre a um lugar neste clube. Escorado na imagem que construiu para si a partir da série de TV Entourage, o ator Jeremy Piven faz de Carros Usados, Vendedores Pirados (The Goods: Live Hard, Sell Hard) uma ode aos canalhas do mundo livre.

Na trama escrita pelos estreantes em cinema Andy Stock e Rick Stempson, Don Ready (Piven) lidera uma equipe especializada em liquidações de carros usados. Há quem os veja como mercenários que cometem baixezas para fechar uma venda - e em tempos de crédito podre, como na crise financeira atual, os EUA olham para tipos assim com desconfiança - mas a concessionária falida que Ben (James Brolin) administra na cidadezinha de Temecula não tem opção.

Desenha-se, então, um cenário parecido com o de Fábrica de Loucuras, comédia de Ron Howard que fazia a crônica da indústria automobilística dos EUA na época da ascensão das montadoras japonesas. Se no filme de 1986 os heroicos colarinhos-azuis tinham que finalizar 15 mil carros em um mês para a fábrica não fechar, em The Goods Don Ready promete a Ben que vai limpar o pátio no feriado de 4 de Julho - ou a concessionária será vendida.

Ambos os filmes jogam com o orgulho nacional versus a recessão, mas The Goods, como se esperaria de um filme produzido por Adam McKay e Will Ferrell (de clássicos modernos sobre o americano médio, como O Âncora e Ricky Bobby), o faz em forma de sátira. Há ironia nos símbolos do 4 de Julho, passando por estereótipos (como o veterano endurecido pela guerra) e inversões de expectativa (o sempre machão Brolin vira um pai de família gay), até o ápice com um Abraham Lincoln saltando de um avião com uma mochila de vibradores.

A direção do estreante Neal Brennan, habituado ao formato de esquetes do Funny or Die e do programa de David Chappelle, abre (mesmo por conta desse hábito) bastante espaço aos momentos solo dos coadjuvantes. A maioria das comédias pós-SNL é mesmo um balcão de oferta de stand-ups, com seus fiapos de trama e tipos excêntricos à esquerda e à direita, e em The Goods isso até combina com a história. Se estamos diante de uma liquidação, onde o que conta é o discurso, nada mais natural que cada comediante tente vender seu peixe.

E nesse cenário Jeremy Piven dá o seu passeio. Discursa sobre a liberdade e canta o amor, com seu visual de aspirante a Bruce Springsteen, como se interpretasse uma versão do George Clooney de Amor sem Escalas, mais esculachada e bem mais interessante.

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